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terça-feira, 24 de setembro de 2019

INSULTA-ME O PANO VERMELHO


















INSULTA-ME O PANO VERMELHO

Insulta-me o pano vermelho. Não pude
deixar de transitar de mercadoria em mercadoria.
Sou uma moeda voando no ar
entre sorte e a sede. Não pude deixar
de repetir gestos de medo,
sou os milhões de rostos do tempo
nos umbrais dos dias
e na incerteza dos enigmas.
E sinto que qualquer alicerce de mim
é contaminado
pelos espelhos das palavras que mais urgem,
pelas frases mais remotas.
Penso como um peixe pronto para a paisagem marítima,
um louco irrompendo pelo meu próprio peito,
pela preguiça dos dedos
estendidos sobre os teclados mais infinitos.
Penso como se escrevesse
como se pudesse escrever
como se tudo me escrevesse
na travessia húmida dos sonhos.
Insulta-me o pano vermelho,
o envelope na mão,
o conteúdo de tudo o que parte para um universo
como areia solta.

Sylvia Beirute 
inédito

domingo, 4 de agosto de 2013

EDITORA LIVROS CAPITAL



Depois de ter editado o ano passado o livro Algarve - 12 Poetas a Sul do Século XXI, a Editora Livros Capital renasceu, agora pela mão do editor João Guerreiro. E consta que procuram novos autores de língua portuguesa.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

BEBIDA - POEMA - SYLVIA BEIRUTE





















BEBIDA

{aos resistentes deste blogue}

bebo onde existe sede.
a mão arrefece com o peso da cabeça.
este silêncio resgata palavras 
para além dos factos magros e esguios.

o meu sangue conhece o amor.
leio Östen Sjöstrand

lia Östen Sjöstrand há cinco minutos atrás.
alguém me chamou e tudo ficou diferente.
não digo que seja apenas este poema.
não é, claramente, apenas este poema.

bebo onde existe sede.

Sylvia Beirute
inédito

terça-feira, 19 de junho de 2012

NO ENTANTO - POEMA - SYLVIA BEIRUTE




















NO ENTANTO

tão especiais os homens de acção
e esta liberdade de poder alongar o verso até ao extremo sem ter de prestar contas ao Criador, 
sem ter de ser realmente especial. 
e é concebível que um desses homens 
venha parar a este meu jorro, à ousadia 
de ter certezas muito desenvolvidas, certezas, também elas, 
até ao extremo absoluto da personalidade colectiva, às 
decisões pelos velhos hábitos. 
se assim é, meus senhores: sentem-se, bebam um café 
que o meu próximo poema servirá com as leis 
da consciência já alteradas, com encontros fora de prazo.
para já: entretenham-se com os meus olhos
e corrijam o que entenderem.

Sylvia beirute
inédito

quinta-feira, 31 de maio de 2012

RDP INTERNACIONAL, DIZER POESIA

O Programa "Dizer Poesia", da RDP Internacional, foi recentemente dedicado à minha poesia. Agradeço à Isabel Branco por este inesperado "acontecimento".

sexta-feira, 18 de maio de 2012

AZUL - POEMA - SYLVIA BEIRUTE

























AZUL

velhas ideias sobre o triunfo branco 
do azul que principiou noutra cor.
e eu brinco a deus.

Sylvia Beirute
inédito
.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

HELDER MOURA PEREIRA - POEMA - ESCREVIAS PELA NOITE FORA

ESCREVIAS PELA NOITE FORA

Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso. Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta. Agora há prédios onde havia
laranjeiras e romãs no chão e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
é suficiente neste passeio. Quando não escreves
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio
é maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria
prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana. Mantêm-se as causas iguais
das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina
dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono
custa. Porque estou contigo e me deixas
a tua imagem passa pelas noites sem sono,
está aqui a cadeira em que te sentaste
a escrever lendo. Pudesse eu propor-te
vida menos igual, outras iguais obrigações.
Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal.

Helder Moura Pereira
 em De Novo as Sombras e as Calmas

quarta-feira, 21 de março de 2012

EU NÃO QUERO CONCORDAR COM BECKETT - POEMA - SYLVIA BEIRUTE























EU NÃO QUERO CONCORDAR COM BECKETT

eu não quero concordar com beckett ou com tudo
o que morre em metáforas.
há algures um contrato de não discrepância
entre aqueles
que pensam e aqueles que sonham.
eu poderia até concordar com vinícius
ou manoel de barros,
quem sabe com jovens poetas como ricardo domeneck
ou ben clark. mas não.
hoje não. não esta noite. esta noite
há um sorriso artesanal que sustenta por um lado
a minha falsidade, por outro a minha verdade.
há uma vontade expressa entregue às traças
e predilecções no seu mapeamento
sem regras. há uma cabeça que faz 360º.

eu não quero concordar com qualquer poeta
que amplifique o mundo.
o que eu quero é conseguir dizer-me do tamanho
que sou. que sou assim desordenada, com
aquilo que um dia chamei de prática
do meu desconserto, com o ínfimo branco
de uma folha que apaga as palavras.

mas afinal:
o que são as palavras?

Sylvia Beirute
inédito
.

TONINO GUERRA - POEMA - CANTO NONO

CANTO NONO

Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada
pelas raízes das ervas
chegou à biblioteca banhando as palavras santas
guardadas no convento.

Quando tornou o bom tempo,
Sajat-Novà o frade mais jovem
levou os livros todos por uma escada até ao telhado
e abriu-os ao sol para que o ar quente
enxugasse o papel molhado.

Um mês de boa estação passou
e o frade de joelhos no claustro
esperava dos livros um sinal de vida.
Uma manhã finalmente as páginas começaram
a ondular ligeiras no sopro do vento
parecia que tinha chegado um enxame aos telhados
e ele chorava porque os livros falavam.

Tonino Guerra
em O Mel
Tradução de Mário Rui de Oliveira, 
Assírio e Alvim, 2004 

domingo, 18 de março de 2012

MARYLIN MONROE

Nunca falhei com ninguém em quem eu acreditasse.

Marilyn Monroe

segunda-feira, 12 de março de 2012

MORTE SÚBITA - POEMA - SYLVIA BEIRUTE


























MORTE SÚBITA

não quero morrer às vezes.

quero morrer em bloco
mas também
não quero que seja entre

o espaço e o tempo

porque entre o espaço
e o tempo
não há um para sempre,

nem nunca houve.

Sylvia Beirute
inédito
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domingo, 4 de março de 2012

GONÇALO M. TAVARES - CANÇÕES MEXICANAS



A QUEDA

Num certo sentido, isto: assumir que a energia da gravidade é coisa para alimentar os cães, se necessário – dá comida ao mundo, essa energia gravítica, como se os abutres fôssemos todos nós e, quando um homem caísse, rapidamente acudíssemos a essa queda e devorássemos a energia que fica em redor de um corpo caído, destroçado, feito em fanicos; a questão não é tanto a carne do morto, isso não interessa aos abutres, o que importa é outra coisa, são os restos que estão à volta, esses restos que nós e os cães vamos comer ou beber como se a energia fosse uma coisa material e não uma invenção da cabeça; e sim, eis o belo mundo em que poderemos crescer mais fortes, o mundo em que a cidade se alimenta da queda, das várias quedas, das quedas de um objecto, de um vaso de uma senhora distraída que com o cotovelo o faz cair; dessa queda, sim, vem energia – mas a cidade alimenta-se acima de tudo, da queda de corpos humanos: suicídios nas pontes, por exemplo, dão uma energia intensa, energia que activa o comércio do centro, que faz mexer as pessoas como se as pessoas tivessem uma pequena roldana que as accionasse: a pressa que vemos subitamente nos rostos teve origem, pois, bem lá atrás, na forma brutal e invulgar como o corpo do suicida bateu na água. Queda, portanto, como a energia que substitui o petróleo e todas as outras fontes naturais: a cidade mantém-se em movimento, as casas mantêm a luz, a electricidade não vai abaixo porque de quando em quando há um corpo que cai; um belo corpo humano em queda desde o 60º andar, ou desde o quinto andar – quanto mais alto, claro, quanto maior o percurso da queda, mais energia gravítica é libertada; e a queda só liberta energia quando é uma queda mortal, portanto os outros homens não salvam, quando muito acodem à queda, aproximam-se e fingem uma última tentativa de salvamento quando afinal estão a parasitar a energia da gravidade de que o corpo desfeito já não precisa – porque certamente há muitas ciências e uma delas poderia pensar na diferença da queda de u corpo já morto e de um corpo vivo. É como se no corpo morto não fosse já a terra que puxa, mas o corpo que se deixa cair. Tem uma passividade dupla, o corpo morto, e ninguém faz força contra quem não reage – a terra é assim, não é diferente de um homem médio corajoso: se não lutas eu também não; o corpo morto cai e a sua queda, mesmo que do alto de sessenta andares, liberta energia, sim, e muita e importante, mas acredita-se que a queda de um corpo vivo é sempre mais forte, mais poderosa, mais generosa – oferece mais à cidade. A isso se chama sacrifício se vivêssemos noutros tempos, mas assim está bem. E os homens que recolhem o lixo são agora acompanhados por outros que recolhem as quedas. Uns recolhem os mortos e o lixo, enquanto ao lado deste grupo, outros homens recolhem a queda – e não os corpos -, como se esta fosse elementos com átomos, um elemento com substância. Mas a queda é isto mesmo: os homens recolhem uma sensação, tentam absorvê-la como um fato absorve água e a faz desaparecer e a certa altura não existe fato e água, mas apenas fato húmido; eis o que procuram os que levam a energia que se libertou na queda de um corpo sólido para a sua velha madre que está a morrer, ou para os seus filhotes, para que cresçam grandes e fortes, e a vida é isto: um certo prazer que vem da queda dos outros. Roubei a energia gravítica de uma queda e aqui estou eu a trazer o esforço do meu dia para a mesa da família. Vamos comemorar e temos energia suficiente e, sim, eis como aconteceu um certo dia, as quedas tornaram-se indispensáveis: um empurra o outro para que a cidade não pare.

Gonçalo M. Tavares
em Canções Mexicanas
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sexta-feira, 2 de março de 2012

APRESENTAÇÃO PÁTIO DE LETRAS EM FARO


poemas aqui.
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